segunda-feira, 20 de julho de 2009

ENTREVISTA (2) - Curso de Pedagogia

Entrevistada: Profª Maria Celeste Lameira
Entrevistadora: Amanda Arcanjo (CEPJA/2007)

1. Que fatores são prioritários para o desenvolvimento e a aprendizagem?
→ Tomando-se como base a Educação Sistemática, podemos dizer que principalmente um ambiente físico e humano acolhedor, afetivo, preparado para possibilitar novas experiências e vivências. Onde as vivências extra-escolares sejam valorizadas, permitindo que a vida cotidiana da criança passe a ser parte integrante de seu desenvolvimento e, onde ela perceba o próprio crescimento. Onde tudo isto se torne aliado e incentivador de sua permanência na escola.
A escola que promove o reconhecimento dela como um lugar prazeroso, onde encontros diários se transformam em ambiente gerador de conhecimentos, torna-se um lugar onde todos querem estar, demonstrando este querer através de suas atitudes positivas de aprendizagens individuais e coletivas que, promovem cada vez a criatividade e o respeito de todos e por todos.
Também, não menos importante, deve ser a parceria feita pela dualidade família/escola. Devendo esta última, promover esclarecimentos necessários que valorizem sua ação educadora, suas metas, seus sucessos, suas dificuldades e seus procedimentos para minimiza-las ou exterminá-las.

2. Saber ensinar é tão importante quanto saber aprender? O que depende de quem?

→ Sim. Na relação professor/aluno a reciprocidade é constante no que diz respeito ao ensinar/aprender. Nesta relação há sempre aprendizado e ensinamento de ambas as partes. Às vezes no desenvolvimento cognitivo, outros no social ou emocional. O convívio, principalmente, entre aluno/professor da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, promove uma inter-relação de conhecimentos, sentimentos e cumplicidade entre eles quando, mesmo nos momentos livres, prevalece à aprendizagem, seja intencional ou não.
Sabendo-se que ensinar é mais que passar informações. É compartilhar objetivos, tarefas, significados e conhecimentos e valores, é preciso compreender como os alunos aprendem, aproximando-se dos conhecimentos que eles têm para poder ajudá-los a se aproximarem dos objetivos propostos. É neste ensinar que o professor aprende, também, com o aluno.

3. Quais são as maiores dificuldades daqueles que ensinam?

→ A formação docente.
Nas instituições de formações de professores (Ensino Médio/Universidades) ainda, se pratica a educação pautada na tendência tradicional e na pedagogia conteudista. Ainda não se desenvolveu nestes cursos a possibilidade de formar-se professores através de competências e habilidades que atendam a educação do mundo atual, permitindo a construção de docentes que desenvolvam estratégias de ensino/aprendizagem mais eficientes e autônomas.

4. Quais são as maiores dificuldades daqueles que aprendem?

→ A transformação da informação em conhecimento significativo.
Na maioria das vezes nem o professor, nem o aluno reconhecem a importância do saber que se está pretendendo alcançar; qual é a utilidade daquela informação na vida cotidiana; o que é prioridade de aprendizagem na formação cidadã.
O aluno não sendo levado a reconhecer a importância do que lhe é ensinado e o que fazer com o conhecimento adquirido, na maioria das vezes, se apega a uma nota suficiente para “passar de ano”.
A escola, normalmente sem poder atender a relação adequada entre o número de alunos e o professor, não permite um trabalho orientado para as necessidades reais e individuais dos alunos. Não permitindo assim, um trabalho diferenciado do professor no atendimento individualizado das dificuldades apresentadas pelos educandos e, conseqüentemente, gerando novas dificuldades que, às vezes, se perpetuam por toda vida.

5. Qual o papel do professor no processo de desenvolvimento e de aprendizagem do aluno?

→ A LDB 9394/96, Artigo 13 em seus incisos III e IV, menciona como incumbência docente: zelar pela aprendizagem dos alunos e estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento. Portanto, o papel do professor é de dinamizar estratégias educacionais para que o processo de desenvolvimento e aprendizagem se efetive de forma significativa, construtiva e afetiva na estimulação desse aluno, para que ele se apresente motivado a sempre querer aprender mais.

6. Como deve ser a relação entre professor e aluno?

→ Ao considerarmos que o que mais influi nas crianças das primeiras séries é a personalidade do professor, devemos observar que o professor que solicita, convida e estimula e, por meio de explicações, faz com que seus objetivos adquiram significado para o aluno, faz com o que o mesmo, passe a ter atitude de simpatia e colaboração.
O professor que tem entusiasmo, que é otimista, que acredita nas possibilidades do aluno, é capaz de exercer uma influência benéfica na classe como um todo e em cada aluno individualmente, pois sua atitude é estimulante e provocadora de comportamentos ajustados, tornando o clima da classe saudável, despertando a imaginação criadora que emerge espontaneamente e, atitudes construtivas que tornam-se a tônica dos comportamentos individuais e grupais.

7. Qual o papel da família no desenvolvimento e na aprendizagem do aluno?

→ A LDB 9394/96 em seu Artigo 2º menciona a educação como dever da Família e do Estado e, portanto, o papel da família deve ser principalmente promover ambiente saudável a construção, desenvolvimento e formação da criança, priorizados e estimulados através de ambiente e convivência adequadas a isto.
O dever dos pais ou responsáveis com a matrícula de menores a partir de seis anos de idade, também é representativo nesse desenvolvimento e aprendizagem, pois, a criança que inicia seu aprendizado escolar na faixa etária correta, apresenta melhores resultados cumulativos.
Igualmente importante é a relação família/escola, precisando haver uma aproximação e um entendimento mútuo sobre o processo de aprendizagem do aluno, na busca da sustentação de seu desenvolvimento permanente e contínuo.

8. De forma geral, os professores têm conhecimento para reconhecer uma criança que apresenta uma dificuldade ou algum transtorno de aprendizagem?

→ Não.
As informações vivenciadas na Formação de Professores em nível Médio nem sempre são acompanhadas por práticas que ratifiquem as teorias. Por outro lado, as informações teóricas, quase sempre não estimulam o interesse dos alunos que apresentam, ainda, uma faixa etária sem maturidade para compreender sua importância.
Nas licenciaturas, na maioria das vezes, os alunos não se interessam muito por disciplinas pedagógicas, direcionando sua atenção para os conteúdos especificamente correlatos ao curso escolhido.
E, final e infelizmente, os modismos que adentram as escolas perturbando o bom entendimento dessas questões e, freqüentemente, apresentam alunos “rotulados” como detentores de transtorno de aprendizagem, quando na verdade a escola é que ainda não aprendeu a lidar com situações de comportamentos sociais diferenciados, originados de convivências, às vezes, não muito producentes para o desenvolvimento das crianças.

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