quarta-feira, 15 de julho de 2009

Parentesco, violência e revolução na escola

“ Atualmente verificamos que escola, professor e aluno já não convivem tão harmoniosamente como antes “
Atualmente, observamos no cotidiano escolar situações de quase conflito entre professores e alunos. Professores com dificuldade em ministrar aulas e desenvolver seu trabalho diário devido, segundo os mesmos, ao “desinteresse”, ao mau comportamento, ao desrespeito e ao descompromisso dos alunos. Alunos que reclamam dos professores, denominando-os de chatos, caretões, estressados, implicantes e mais outras tantas coisas.
Mas sabemos que houve tempos em que o relacionamento inter-pessoal professor/aluno era bem mais amistoso e respeitoso, pois o aluno já trazia em sua bagagem psicosocial todo um respeito, todo um afeto e uma relação de amizade e reconhecimento à figura do professor. Mas essa relação mudou. Atualmente verificamos que escola, professor e aluno já não convivem tão harmoniosamente como antes.
O que aconteceu? As coisas mudaram sim. Antigamente, logo no seu primeiro contato com a escola, a criança encontrava a professora, pessoa formada para formar, bem quista e reconhecida pela sociedade e, também, pelos pais daqueles que seriam seus alunos. Hoje, a criança encontra na escola a “tia”, e talvez nessa denominação a transferência de todo desrespeito vivenciado em família ou em sua comunidade.
Já na passagem da quarta para quinta série, ou, terceiro ano do segundo ciclo, a mudança. O aluno não tem mais a “tia”, e sim, a professora ou professor. Essa mudança é significativa? Mas o que aconteceu com a escola? O que é necessário fazer para que o bom relacionamento, o respeito, o interesse e o bom comportamento voltem a reinar nela?
“ Sabemos que o mundo fora da escola é bem mais colorido, interessante, vivo, atraente e convidativo “ Sabemos que muitas vezes, ou até na maioria das vezes, o mundo fora da escola é bem mais colorido, interessante, vivo, atraente e convidativo, porém compreendemos também que a escola foi e continua sendo o lugar para onde pais e responsáveis encaminham suas crianças ou adolescentes, por acreditarem ser nela e através dela que eles crescerão, ou “serão alguém”, constatando-se também, que muitos dos valores e opiniões dos estudantes sobre a importância da realização escolar divergem dos pais.
E a permanente luta diária por delimitação de espaços continua. De um lado, pais preocupados com a “educação” que a escola está dando a seu filho. De outro lado, professores horrorizados com o comportamento geral desses estudantes e preocupados por não alcançarem o cumprimento de todo seu planejamento, o que em suas visões prejudicará futuramente o aluno ao nível de “vestibular”. No foco central dessa questão encontramos os alunos no concreto questionamento: “para que eu tenho que aprender essas coisas?”.
A sociedade mudou, os alunos mudaram, as necessidades mudaram. E a escola? Parece-nos que ainda não. A violência impera na sociedade e, também, dentro da escola. Professores, alunos, funcionários e direção vivem em constante sobressalto em suas convivências diárias. A violência vivida pelo aluno fora da escola é trazida para dentro dela, ou até imposta a ela, sem que os professores saibam como lidar ou superar esse problema.
Na maioria das vezes, a escola é ponto de encontro de pessoas insatisfeitas, revoltadas, mal humoradas, desgostosas por terem de permanecer ali. Mas sabemos que esse problema pode ser superado, talvez não imediatamente, mas que pelo menos exista interesse de todos os interessados em minorizá-lo.
É nesse importante momento de incertezas, questionamentos, desaprovações, desilusões e até atritos, que surgiu a nova Lei de Diretrizes e Bases, acenando-nos com a possibilidade da Escola Autônoma, transformadora, tecnológica e também humanizadora. A nova LDB traz com ela os “PCNs”, que direcionam a instrução, através dos conteúdos curriculares, em um completo entrosamento com a educação direcionada à construção de cidadania, na ampla proposta dos Temas Transversais.
O estudo dessa nova lei permite que acreditemos que a escola pode mudar, pois a modernidade exige mudanças em todas as áreas, e, portanto, a Educação, que é base de tudo, deve acompanhar e participar do novo processo, pois o novo sempre traz resistência. Porém, não há mais tempo a esperar e não cabe desistir. E nesse momento de reflexão e questionamentos há que se investir nesse novo, acreditando-se nele.
“ A nova escola proposta espera, e tem tudo para conseguir, contemplar os anseios de pais, alunos e professores “ Adaptar a escola aos moldes da nova lei é preciso. Para tanto, necessitamos de professores bem informados, inovadores, conhecedores das novas tecnologias e, principalmente, dispostos a direcionarem seus conteúdos para o desenvolvimento das habilidades e competências e, também, dispostos a trabalhar interdisciplinarmente dentro da nova visão de educação contextualizada.
A nova escola proposta espera, e tem tudo para conseguir, contemplar os anseios de pais, alunos e professores, pois ela tem como objetivo principal o indivíduo, sua vida, seu crescimento, sua individualidade, sua formação cidadã. E assim a Escola não será vista somente como um espaço físico, mas como um lugar reservado ao crescimento, à construção do conhecimento, o lugar onde pessoas se encontram para “aprender a aprender”, sempre em um processo contínuo e dinâmico.
Para tanto, é indispensável pensar-se o corpo docente e discente como um “time”, aquele onde todos participam de um mesmo jogo, onde todos saem vitoriosos, ou todos saem derrotados, e, portanto, todos reúnem seus esforços em torno de um ponto comum, a vitória. O que objetivamente direciona qualquer proposta pedagógica inovadora para o trabalho com projetos, o que substancialmente aumenta o entrosamento entre pessoas, disciplinas, soluções de problemas e troca de experiências.
“ Esse trabalho é possível, e certamente envolvente, pois quem mais do que a criança e o jovem gostam de coisas novas? “
Professores e alunos caminhando juntos, lado a lado, na construção do fazer pedagógico de uma unidade escolar, onde estarão previstas visitas a museus, pesquisa de campo, idas a bibliotecas, a teatros e a elaboração conjunta de festas internas, automaticamente tornará a convivência escolar diária mais afetiva, cooperativa e prazerosa.
Uma vez, em 1993, recebi um cartão de Natal de uma colega professora que mencionava: “quando sonhamos sozinhos é apenas um sonho, quando sonhamos em conjunto é o começo da realidade, que seus sonhos em educação se tornem belas realidades”. Por isso, a apresentação do meu MSN é: “acreditando no poder dos sonhos para torná-los realidade”.
por: Profª Maria Celeste Lameira
Publicado no O Globo Online - 08/07/2008 e em www.professoresassociados

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